quinta-feira, 31 de março de 2011

A História de vida do António Peixoto contada na 1ª Pessoa

Olá, chamo-me António,tenho 36 anos e tenho epilepsia como consequência de Esclerose Tuberosa.



O diagnóstico foi feito e confirmado quando tinha 12 meses, os sintomas que despertaram a minha família para que algo comigo estava mal, foram dificuldades em sentar-me e  outras falhas no comportamento que não era o certo para a idade.
A minha doença não afectou em alguma coisa o meu desenvolvimento físico ou intelectual, fui sempre um aluno com um aproveitamento razoável e a nível de sociabilidade não afectou o comportamento com outras pessoas.
Os sintomas ou chamadas crises, nos primeiros anos da minha infância e parte da juventude não aconteciam, e se fosse o caso manifestavam-se de forma muito leve,em parte derivado à medicação que tomava que seria a mais eficaz para o meu caso, (ainda hoje pergunto por esse medicamento ao meu medico mas a  resposta é que traz efeitos secundários noutros órgãos tomado durante muitos anos).

A partir dos meus 20 anos, as crises comeram a aparecer mas algo que se suporta com simples tonturas e de longe a longe  apareciam as mais fortes,que são bloqueios (do género de alguém falar para mim eu conseguir ouvir tudo e não conseguir responder) ou outro sintoma que é tipo curto-circuito, quando acontece não tenho o controlo sobre o que estou a fazer indo sempre em frente, se estiver a conduzir ir para a outra faixa ou sair da estrada e cair numa ravina ou coisa do género.

À medida que a idade vai avançando aumenta a frequência e intensidade das crises, o que faz com que seja difícil de acertar com a medicação. Esta doença cria ramificações noutros órgãos aos que, é necessário fazer consultas e exames de rotina para saber se não degeneraram em algo pior ou se continuaram no mesmo estado.

Eu estudei até ao 12ºano em três fases,a primeira foi até ao 8ºano,depois sem querer fui obrigado a desistir de estudar porque me baldei um pouco, (mas mesmo assim consegui concluir o ano com sucesso), pouco tempo depois,comecei a trabalhar.

Fui trabalhar na primeira oportunidade de trabalho que apareceu, e foram 11 anos num campo de tiro aos pratos,bom ambiente entre colegas e atiradores de todas as classes sociais que frequentavam esse local.
Prestes a ser despedido decidi recomeçar a estudar para fazer o 9ºano no ensino recorrente da época, ao mesmo tempo trabalhava das 10h às 18e30h estudava das 19e45h às 23e30h e chegado a casa ainda tirava uma hora para fazer testes de código para tirar a carta.

Segunda parte,depois de conseguir a carta e estar perto de ter o 9ºano (só não foi feito por causa da matemática), mas como era necessário recorri a uma forma mais fácil e prática para o conseguir... fui para o sistema de ensino para a estatística R.V.C.C. no qual consegui fazer  a escolaridade pretendida mas sem conteúdo algum,algo que por um lado fez com que ficasse desiludido com o sistema e questionar a forma de ensino.

A terceira parte foi a conclusão do 12ºano, este sim teve conteúdo com matérias que usamos diariamente na teoria e na pratica,esse foi um curso EFA/SECUNDÁRIO.

As crises que tenho limitam-me um pouco a nível laboral porque não posso conduzir, e todos ou a maioria das ofertas de trabalho pedem viatura e carta de condução, sendo que as crises são diárias e não dizem quando vão acontecer seria um risco aceitar um trabalho que tivesse essas exigências e poderia por em perigo a minha vida e (ou)a de outra pessoa.
Devido a ter tido já um acidente por ter tido uma crise a conduzir, o que me fez ponderar os riscos que poderiam ocorrer.

Nesta altura estou desempregado,continuo à procura de algo compatível com a minha situação,desde que fui despedido ou melhor desde que a empresa fechou ainda não consegui um trabalho de longa duração, unicamente trabalhos sazonais e de pequenas durações.
Ainda tenho esperança que as coisas mudem e que a situação melhore económica e socialmente,por isso continuo a enviar currículos, a fazer candidaturas espontâneas e a ir a entrevistas sempre com pensamento positivo.

... fazer um resumo da minha vida é em parte falar das condicionantes que a esclerose tuberora me obrigou a ter, e pensar que uma grande parte da minha vida até ao momento tem sido passada em consultas e exames de rotina em várias especialidades,porque esta doença afecta outros órgãos e têm de ser vigiados com alguma frequência para saber se as coisas se mantém estáveis ou estão a evoluir negativamente (o que não é o caso felizmente até ao momento), e assim espero que continue a ser durante muito tempo.

No meu caso ando a ser seguido em quatro especialidades,já tive um contra que foi, a perda de parte da visão mas segundo os especialistas é quase certo que neste caso fique por aqui, porque a parte da visão que perdi foi do lado do cérebro no qual tinha maior incidência dos ditos "tumores",que desencadeavam as crises,mas de resto tudo bem.

No espaço entre as idas às consultas, levo uma vida normal, tirando todas as limitações às quais estou sujeito, ainda tenho possibilidade de encontrar um trabalho que possa executar e não são tão poucos como pode parecer para quem não conhece a realidade da doença, temos de obedecer aos requisitos pedidos, e muitas vezes passam ao lado as oportunidades por infelizmente a sociedade sofrer de uma doença pior de que a nossa que dá pelo nome de"preconceito ou ignorância", que no fundo são da mesma família, conseguimos ser úteis em algum lado se não for na construção civil pode ser como recepcionista ou administrativo(A).
Basta as pessoas estarem interessadas em colocar pessoas como eu, e muitos outros, a exercer trabalhos que se ajustem à sua condição física ou de outro aspecto.

A nível social acontece muito este caso,somos convidados para festas de anos casamentos ou ao fim de semana ir beber um copo com os amigos, além de não podermos beber álcool, tomar café, beber cola ou fumar, não impede de nos divertirmos e possamos conviver com as pessoas, mesmo que algumas vezes alguns amigos digam: vá lá um copo não faz mal de vez em quando!
Diverti-mo-nos de igual forma bebendo álcool ou sumo e água. A ideia final é, enquanto depender de nós não devemos desistir de lutar e tentar fazer com que as pessoas compreendam que o que isto é, e tenham mais conhecimentos sobre o assunto para não ficarem com pensamentos errados sobre nós e as nossa capacidades em fazer qualquer tarefa seja a nível laboral, como intelectual, conseguimos executar igual ou melhor a uma pessoa sem esse problema aquilo que nos é pedido.

Não vamos desistir somos e seremos úteis em qualquer lugar desde que nos dêem oportunidade de mostrar isso.

terça-feira, 29 de março de 2011

Passagem do Testemunho de Alexis para António Peixoto

Mais uma história termina, e mais uma história toma lugar aqui no nosso blogue...
O Alexis deixa por aqui a sua história, passando o Testemunho ao António Peixoto.

Muito mais haveria para dizer, fica sempre este sentimento, mas há que dar lugar a outras histórias reais.
Com certeza no futuro teremos mais novidades para contar dos que por aqui já passaram, mas até lá, vamos conhecer agora a história do António...

Para despedida do Alexis  publico aqui mais uma das suas actuações que tanto orgulho lhe dá a si mesmo, e à sua família!!
Esperamos todos nós continuar a ver mais registos destes momentos felizes.
Um grande Bem Haja para o Alexis e à sua família.


Reconhecimento de Qualidade do Blogue : Selos

Fomos presenteados com selos para mostrar o reconhecimento de qualidade do nosso blogue.
Foram-nos oferecidos pelo blogue http://ranhetamargarida.blogspot.com
Muito muito Obrigada Ranheta :).





Agora é a minha vez de atribuir estes Selos de Qualidade a outros 5 blogues:

-http://crescer-especial.blogspot.com
-http://www.blog.estimulopraxis.com
-http://escolapaisnee.blogspot.com
-http://pilotodiese.blogspot.com
-http://amadeurafael.blogspot.com

É mais uma forma de divulgar e mostrar a qualidade dos mais variados temas espelhados neste formato.
Os 5 escolhidos são um depositário de boa informação e por isso espreitem  cada um deles.

 

terça-feira, 22 de março de 2011

Congresso Anual de Epilepsia ou Encontro Nacional de Epileptologia (ENE)

Nos passados dias 18 e 19 de Março, realizou-se o Congresso Anual de Epilepsia em Portugal.
Estiveram presentes muitos Neuro-Pediatras, Neurologistas, Técnicos de Neurofisiologia, bem como muitos outros profissionais ligados à área portugueses e estrangeiros também.
 
Fui convidada pelo Dr. José Carlos Ferreira, Neurologista Pediátrico do Diogo.
O Dr. José Carlos Ferreira levou o caso do Diogo a discussão neste Congresso.

No post da Equipa, que já aqui publiquei, salientei uma coisa que admiro nesta profissão: o Espírito de Missão, no verdadeiro sentido da palavra.
Estes profissionais não se limitam a serem bons nas suas carreiras profissionais, lutam por vidas e fazem tudo o que está ao seu alcance.
Já tive vários exemplos do que vos estou a contar, principalmente pelas alturas de internamento do Diogo.
Não gostaria de seguir medicina, nem nada que se pareça, mas toca-me muito o que fazem todos os dias a todos os pacientes que lhes passam pelas mãos.

Coloco aqui algumas palavras para recordar:

Esta vasta Equipa desempenha  com toda a dedicação a sua profissão, porque ninguém fica indiferente a um problema de saúde desta gravidade em crianças, e para além disso porque são os que estão na linha da frente a combater cada problema nestes meninos, e conhecem a realidade da sociedade em que estamos inseridos e as verdadeiras necessidades destas famílias, bem como, a falta de apoio generalizada do estado para estas situações.
Por isso dedicam vidas a explorar, a procurar, a aprender e a colocar em pratica todos os seus conhecimentos partilhando-os com os pais e familiares, para assim todos ajudarem num melhor desenvolvimento destes doentes."
Mas voltando ao Congresso...
Os 5 casos apresentados para discussão eram o 1º tema deste Congresso, por isso o caso do Diogo foi o 1º a ser apresentado na Sexta Feira dia 18 pelas 9h30m, e lá estava eu a furar entradas para poder ouvir o que os médicos iriam dizer do meu menino. (Este Congresso era só para profissionais )

Eu e a Dr.ª Rita Pinto Técnica de Neuro-fisiologia


A expectativa era Q.B. porque já tinha uma ideia em relação ás perguntas que seriam colocadas.Não que o Dr. José Carlos Ferreira me tivesse dito , mas porque entendi o âmbito que queriam expor.
Mas a emoção ao ver os exames do meu Diogo e ver vários médicos do País a falar do meu filho quase que rebentava no meu peito.

O Cérebro do meu  Diogo

O cenário construído para debate foi o passado do Diogo, por isso não descobri nada de novo.
Mas no inicio, na apresentação do caso, foi colocado o plano de acções para o futuro, a aplicar ao Diogo, e lá estava a Dieta Cetogénica para além de mais medicação....
Todos os médicos votaram na questão que se colocou em relação à cirurgia, e todos foram unânimes: concordaram com a cirurgia, mas logo de seguida à votação, discutiram os riscos...
Os famosos riscos da cirurgia de epilepsia: (e que nos foram explicados na altura)

- O desenvolvimento Motor
- A linguagem

Pois, e de facto mantém-se a assimetria do lado direito do corpo do Diogo ( mas que já existia antes da cirurgia) e a linguagem está muito atrasada.
Mas todos os dias o meu Diogo faz progressos nestas áreas.No seu ritmo, mas faz!!

o gráfico da resposta: Sim à Cirurgia

Fiquei a conhecer mais médicos, e tirei uma conclusão um pouco desconfortável:

Existem muitas pessoas ligadas à Neurologia, ( a sala àquela hora já se encontrava cheia), mas há  poucos Neurologistas neste País.... É um pouco assustador.....

Alguns nomes que estiveram presentes:

-Dr. José Carlos Ferreira;(Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental)
-Dr. Pedro Cabral;(Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental)
-Dr. José Pimentel;(H. Stª Maria)
-Dr. Francisco Sales; (H. Universitário de Coimbra)
-Dr. Dilio Alves;(H. Matosinhos)
-Dr. António Martins; (H. Amadora Sintra)
-Drª Conceição Bento (H. Universitário de Coimbra)

-Dr. Nuno Canas (H. Egas Moniz)
-Dr. Alberto Leal (H. Julio de Matos/H. D. Estefânia/Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental)        

Aqui ficam alguns nomes de Médicos e Técnicos que estiveram presentes.


Dr. José Carlos Ferreira a intervir, e na mesa de moderadores Dr. Pedro Cabral, Dr. Pimentel entre outros

É estranho, e ao mesmo tempo muito bom, saber que o Diogo é um caso conhecido por quase todos estes médicos, e é muito gratificante saber que se reúnem todas as 1ªs Quartas-Feiras de cada mês para tirarem duvidas, trocarem impressões e ouvirem outras opiniões....
 Tenho os pés na terra e conheço algumas limitações da saúde em Portugal e nomeadamente ao que se relaciona com a doença do Diogo, mas também sei que nada ganharia por levar o Diogo para qualquer lugar no estrangeiro.
Não quero com isto dizer que todos os casos de Esclerose Tuberosa sejam tratados da mesma forma, até porque esta doença se manifesta duma forma tão ímpar de individuo para individuo, que não descuro a hipótese de existirem outros casos que seja mais adequado o acompanhamento no estrangeiro.

Mas em relação ao Diogo, continuo a acreditar que é muito bem acompanhado, aliás tem mesmo um acompanhamento ímpar,sem duvida, tanto a nível humano como a nível técnico de saúde em Portugal.

Dr.ªRita Pinto (HFX) e Dr. Daniel Borges (H. Porto)Técnicos Neurofisiologia